sexta-feira, 3 de maio de 2013

As coisas mudam tanto ...


Houve um tempo que as minha maiores preocupações eram comer doces e ver os desenhos animados. Depois começaram a ser os estudos e as aulas aborrecidas que tinha de frequentar. Mais tarde as preocupações começaram a ser os namorados e as relações desastrosas em que me meti e às quais tive de sobreviver (a grande custo e sofrimento). As coisas mudaram mais um bocadinho e as minhas preocupações voltaram-se para a Universidade. Sair de casa e viver sozinha, conhecer pessoas novas e começar um curso que (supostamente) deveria definir a minha vida e o meu futuro. O início da vida académica e o amor ao espírito académico. A certa altura a minha única preocupação era deixar de ver o meu carro rebocado por mau estacionamento (oh tempos felizes!). Depois mudou tudo outra vez e a maior preocupação era decidir o que fazer da vida quando percebi que não gostava do curso. Voltei para casa e percebi que o principal era manter-me sã e feliz numa cidade onde eu já não encaixava. Então as coisas começaram a mudar para um nível diferente ... e tudo se tornou mais escuro, mais frio, mais duro, mais perigoso. Pior que tudo, mais solitário. Comecei a ver coisas que me assustaram, que me marcaram e que me mudaram enquanto ser humano. A preocupação começava a ser "mudar as coisas" que estavam erradas a minha volta. Como é óbvio falhei. Depois o destino colocou-me em situações nas quais eu nunca tinha estado e a minha maior preocupação passou a ser "libertar-me de Tavira" e do mal que aquele sítio me fazia, a todo o custo. Então vim para Londres. E quando cheguei aqui percebi que nunca mais ia ter preocupações menores e que nunca mais vou poder descansar. É muito difícil manter um dia-a-dia minimamente confortável aqui. As minhas preocupações passaram a ser: conseguir trabalhar o suficiente para pagar uma casa onde morar e ter comida na mesa; fazer esta vida de emigrante e de casal funcionar mesmo quando as adversidades são muitas; e lidar com as saudades e os demónios que vieram de Portugal comigo. A minha vida verdadeiramente feliz acabou e agora vivo uma vida de procura constante pela felicidade que não sei se vou voltar a ter.

As coisas mudam tanto ... mas provavelmente é isso que significa "crescer". Mas não estou triste por não me sentir inteiramente feliz. Estou um bocadinho farta, mas o facto de me sentir assim faz com que eu saiba (de verdade) que não é assim que quero ficar, logo faz-me querer andar para a frente e chegar a algum sitio melhor.

Este foi o desabafo de um dia cansativo que terminou com más notícias. Notícias de demónios que não me largam e que terei de enfrentar mais cedo ou não tarde. Enfim ... Um beijinho para esse lado, com muitas saudades de quem está deste. *

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